O diretor de Controles Internos e Integridade (Decoi) da Caixa, Sérgio Ricardo Faustino Batista, foi encontrado morto nesta terça-feira na área externa da sede do banco em Brasília.
Sérgio era o responsável por analisar denúncias de corrupção e assédio protocoladas por servidores nos últimos quatro meses.
O expediente na Decoi acontece remotamente nesta quarta. Abalados, os funcionários que trabalham no departamento comentam que Sérgio era um chefe discreto e generoso. Apesar de ocupar o cargo por pouco tempo, ele era conhecido nos corredores da sede.
Os servidores do Decoi que tinham contato direto com Batista foram dispensados do trabalho presencial ainda no período da manhã. Outros, foram ao local apenas para pegar equipamentos e continuar o expediente de casa. Mais cedo, a Polícia Civil também visitou o departamento para dar andamento às diligências.
Batista era servidor de carreira da Caixa, estava na instituição desde 1989, e assumiu a diretoria em março deste ano após um processo seletivo interno. Ele também foi consultor-chefe do ex-presidente da Caixa, Pedro Guimarães, que deixou o cargo após ser alvo de denúncias de assédio sexual, em junho.
Servidores da Caixa, que falaram com a reportagem nesta quarta (20), destacaram o clima de medo que rondava a instituição e que foi acentuado desde que os episódios de assédio foram revelados pela imprensa.
Um levantamento da Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa Econômica Federal (Fenae) mostra que 60% dos funcionários do banco afirma ter sido vítima de assédio moral no trabalho.
Em nota, o banco lamenta a morte do diretor e disse colaborar com as investigações. “A Caixa manifesta profundo pesar pelo falecimento do empregado Sérgio Ricardo Faustino Batista. Nossos sinceros sentimentos aos amigos e familiares, aos quais estamos prestando total apoio e acolhimento. O banco contribui com as apurações para confirmar as causas do ocorrido”, diz o texto.
A diretoria que era comandada por Sérgio Ricardo faz parte da estrutura da Corregedoria da instituição, que antes era vinculada à presidência e, após a posse da nova presidente da Caixa, Daniella Marques, passou a ser ligada ao Conselho de Administração. A mudança veio na com as denúncias de assédio envolvendo o ex-presidente do banco, Pedro Guimarães.
Segundo o banco, as alterações foram feitas para “reforçar a autonomia e isonomia da atuação da Corregedoria” e proporcionar “melhor comunicação interna, otimização, eficiência e fluidez na gestão de pessoas e processos”.
Em junho, diante da renúncia do então presidente do banco Pedro Guimarães por suspeita de assédio, a Caixa confirmou que já havia recebido denúncias e informou que estava investigando o caso desde maio deste ano. Em comunicado divulgado para a imprensa na época, o banco destacou que o tema vinha sendo tratado pela Corregedoria de forma interna e em sigilo.
“A Caixa repudia qualquer tipo de assédio e informa que recebeu, por meio do seu canal de denúncias, relatos de casos desta natureza na instituição. A investigação corre em sigilo, no âmbito da Corregedoria, motivo pelo qual não era de conhecimento das outras áreas do banco”, divulgou.
O banco ainda afirmou na nota que fez contato com a pessoa que realizou a denúncia e promoveu “diligências internas que redundaram em material preliminar”. Esse material está em processo de avaliação. “Portanto, a Corregedoria admitiu a denúncia e deu notícia ao/à denunciante, se colocando à inteira disposição para colher o seu depoimento, mantendo seu anonimato.”
Pedro Guimarães é alvo de uma investigação do Ministério Público Federal (MPF). Denúncias de que ele assediava sexualmente mulheres no banco foram reveladas pela imprensa. De acordo com a apuração, os casos teriam ocorrido com empregadas do próprio banco que se sentiram abusadas pelo economista em diferentes ocasiões, em eventos ou viagens de trabalho.
O Ministério Público do Trabalho (MPT) também abriu uma investigação preliminar para apurar as denúncias e o Tribunal de Contas da União (TCU) solicitou informações à Caixa sobre quais mecanismos e procedimentos foram adotados para prevenir assédio sexual e moral.
Em 5 de julho, Pedro Guimarães publicou artigo em que nega as acusações e se queixa de sofrer um “massacre insano”. O caso segue sob apuração do Ministério Público do Trabalho.