Apesar da tendencia recente de queda nos casos de Covid e de óbitos pela doença, o Brasil atingiu nesta quarta-feira (2) a marca de 650 mil óbitos dela Covid-19.
A média semanal de vítimas, que elimina distorções entre dias úteis e fim de semana, ficou em 509, em queda pelo 10º dia seguido. “Infelizmente nós temos vários estudos que mostram que no Brasil tivemos um número excessivo de óbitos. O porcentual de mortes evitáveis é algo que vem sendo calculado entre 40% e 60% se tivéssemos tomado as decisões corretas”, explica Alexandre Naime Barbosa, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia.
Barbosa afirma que era muito importante que o discurso fosse mais coordenado entre o governo federal, estadual e prefeituras em relação às medidas de circulação de pessoas, o uso de máscaras e isolamento social.
“Essas medidas não farmacológicas deviam ter sido coordenadas de maneira uniforme e isso não aconteceu. Isso levou à desconfiança da população em relação à efetividade dessas medidas” disse.
O professor também levanta a questão da politização dos imunizantes. O fato de políticos terem questionado a eficiência das vacinas, e o governo federal demorando para sua compra, inclusive dizendo que não tinha pressa para q o imunizante fosse oferecido para a população brasileira, teriam atrapalhado muito, e se não tivesse ocorrido, poderia ter evitado muitas mortes.
A vacinação começou em janeiro, e foi muito lenta, só engrenando tardiamente, e nesta época tivemos a variante Gama, que foi um grande problema, com cerca de 400 mil óbitos concentrados.
Para Jesem Orellana, epidemiologista da Fiocruz/Amazônia, pandemia e mortes são conceitos intimamente relacionados. “Especialmente quando se trata de doença nova e de fácil alastramento, como é o caso da covid-19. No entanto, o número de mortos que um país alcança é resultado das estratégias de enfrentamento e mitigação adotadas. A marca de cerca de 650 mil mortes conhecidas no Brasil é tragicamente alta (segunda maior do planeta) e, na prática, é ao menos 15% maior, devido à subnotificação”, lamenta
O especialista ainda cita os efeitos indiretos sobre a própria saúde pública como os casos de covid longa, os gastos em contexto de subfinanciamento do SUS, o agravamento de outras doenças pré-existentes (transtornos mentais, diabetes, pressão alta) ou até mesmo a redução da expectativa de vida da população.
“Não é impossível chegarmos a 700 mil ou mesmo 800 mil mortes conhecidas por covid-19, pois se continuarmos colocando a agenda econômica acima da vida, seguiremos tendo mais e mais mortes evitáveis, sem qualquer benefício econômico, tal como testemunhamos nestes dois anos de pandemia no Brasil, um duplo desastre, sanitário e econômico”, avisa.
A primeira morte por covid-19 no Brasil ocorreu em 12 de março de 2020 e desde então os números de contaminados e óbitos cresceram progressivamente e pode-se dizer que o momento atual é uma terceira onda.
Em 20 de junho de 2020, o País passou a barreira de 50 mil mortes e na ocasião sequer se imaginava que este número seria multiplicado por 13.
Nesta mesma época do ano passado, o País vinha em um aumento de mortes que fez passar de 300 mil óbitos em 24 de março para 500 mil em 19 de junho.
No final de 2021 houve uma desaceleração nas mortes, porém agora em 2022, com a variante Ômicron, as vítimas fatais por covid-19 voltaram a crescer.
Nesta quarta, o número de novas infecções notificadas foi de 29.841. No total, o Brasil tem 650.052 mortos e 28.839.306 casos da doença. Segundo os números do governo, 26.506.005 pessoas estão recuperadas
O Estado de São Paulo registrou 29 mortes por coronavírus nesta quarta. Outros quatro Estados superaram a barreira de 20 óbitos: Minas Gerais (51), Rio Grande do Sul (40), Bahia (39) e Pará (21). No lado oposto, Amapá, Rio Grande do Norte e Roraima não registraram nenhuma morte.