Uma falha médica que beira o inacreditável. Uma mulher de Marília viveu quase dois anos com um corpo estranho dentro do abdômen após um parto cesariano realizado no Hospital Materno Infantil, ligado ao Complexo Famema, instituição pública de saúde. O caso, que veio à tona por meio de uma sentença judicial, reacende o debate sobre falhas graves e impunidade em atendimentos hospitalares no sistema público.
Justiça reconhece erro e condena o Complexo Famema
A decisão, assinada pelo juiz Walmir Idalêncio dos Santos Cruz, da Vara da Fazenda Pública de Marília, é direta: houve falha na prestação do serviço e negligência na condução do caso.
Segundo os autos, a paciente — identificada pelas iniciais R.A.C.F. — realizou o parto em 23 de maio de 2020. Desde então, passou a sofrer dores intensas e secreção na região umbilical. Procurou atendimento diversas vezes, mas recebeu apenas tratamento paliativo.
Somente em dezembro de 2022, uma ultrassonografia revelou a presença de um objeto cirúrgico esquecido em sua cavidade abdominal. A paciente precisou passar por uma nova cirurgia de urgência para a retirada do material.
O magistrado destacou que “não há como relativizar a permanência de um corpo estranho dentro do corpo de uma mulher por quase dois anos após o parto”, classificando o episódio como “falha grave, inadmissível e ofensiva à dignidade humana”.
O preço da dor e da omissão
O juiz condenou o Complexo Famema ao pagamento de R$ 30 mil por danos morais e estéticos, com correção e juros. Segundo a sentença, “a autora foi privada de sua saúde, do convívio com o filho recém-nascido e do seu bem-estar”, sendo o sofrimento físico e psicológico “muito além de um mero aborrecimento”.
A decisão também critica a demora injustificada nos exames e a insistência em tratamentos sem resultado: “A negligência se agrava quando o erro inicial é seguido pela omissão prolongada”, pontuou o magistrado.
Um retrato preocupante da saúde pública
Casos como esse expõem um abismo na qualidade do atendimento médico em instituições públicas e levantam uma questão que incomoda: quantos erros semelhantes ainda permanecem escondidos sob o manto da burocracia e do silêncio institucional?
A Justiça, neste caso, falou alto. Mas o valor da indenização — embora simbólico — jamais apagará os anos de dor, humilhação e abandono enfrentados por uma mãe que só buscava um parto seguro.
Como diz o ditado popular, “quem cala, consente”. E o silêncio diante de tragédias como essa é cúmplice.
Comentário do JP Jornal O Popular:
Este caso precisa servir de alerta. Não é apenas sobre R$ 30 mil — é sobre o preço da negligência humana. Quando o erro médico deixa de ser exceção e vira rotina, a sociedade precisa reagir. A vida não pode ser tratada como estatística.
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