A depressão em adolescente é um problema é global e afeta duramente a América Latina, onde, segundo as estimativas mais recentes do Unicef (braço da ONU para a infância), quase 16 milhões de jovens entre 10 e 19 anos têm algum transtorno mental. Isso equivale a 15% das pessoas dessa faixa etária.
O maior risco deste “fenômeno” é o suicídio: mais de 10 adolescentes tiram a própria vida diariamente na América Latina, apontou o Unicef.
O suicídio é a terceira principal causa de mortes na faixa etária de 15 a 19 anos.
Para a especialista chilena, Ana Marina Briceño, a depressão em adolescentes é um fenômeno multicausal, ou seja, não há uma só razão para acontecer.
“Vimos empiricamente que a pandemia foi muito complexa para os adolescentes, e uma hipótese é que privá-los da interação social em uma idade-chave disso foi algo complexo. Mas o aumento dos casos de depressão começou desde antes da pandemia” pontuou a especialista.
Para ela, a permanente comparação com a vida de outros jovens, provocada pelas redes sociais, tanto sobre a vida como seus corpos, aumenta problemas relacionados ao ânimo e à ansiedade.
“Há quem ache que esta geração é uma das que cresceram mais solitárias, porque seus pais também estão enfiados nas redes sociais, fazendo sua vida, e não estão emocionalmente disponíveis para os filhos. Além disso, criou-se foco em uma falsa felicidade, em que se dá aos filhos tudo o que eles pedem, para não frustrá-los, fazendo com que não tenham ferramentas para lidar com a frustração. A criação mudou. Não se trata de culpar uma ou outra pessoa; são contextos culturais distintos” disse ainda Ana Marina.
Identificar a depressão é ainda mais difícil. Segundo a especialista, os jovens ativamente ocultam seus sintomas, ou porque não querem dar problemas ou por medo.
“Eu diria que o importante é estarmos atentos a mudanças de comportamento. Mas não mudanças de um ou dois dias, que são transitórias e próprias da adolescência, mas sim as mudanças que vão além de uma ou duas semanas. É preciso ver também se essas mudanças ocorrem em mais de um ambiente – não só em casa, mas também na escola ou com os amigos. Se o adolescente, por exemplo, abandona seus interesses, e isso abarca diferentes áreas, é preciso dar atenção e provavelmente pedir ajuda” disse.
Ana Marina Briceño ainda pontua que aplicar medidas preventivas não é garantia de assegurar que o adolescente não irá se deprimir. Mas entre eles estão hábitos de sono, refeições em família, estímulo a atividades físicas ou extracurriculares. Também ajudam a luz do sol, a vitamina D, passar tempo longe das telas, na natureza.
“Normalizar o pedido de ajuda – poder falar de seus problemas. Saber que às vezes há dias ruins, e está tudo bem com isso” para a profissional é um grande passo na prevenção.
Por último, ela pontua que é importante acompanhar as crianças e jovens no mundo virtual. “É comum que eles ganhem tablets e que seus pais não saibam o que acontece ali. É como mandá-los ao parquinho sem supervisioná-los. É preciso conversar sobre o mundo virtual, seus perigos, o que não se deve fazer, o ciber-bullying etc.”
Para ajudar os filhos com transtornos mentais, a primeira medida, muito importante, é procurar ajuda profissional. “É uma doença – e se nosso filho estivesse com apendicite, não pensaríamos em tratá-lo em casa. Mas, dito isso, há coisas que devemos levar em conta para não criar problemas: por exemplo, quando a atitude dos pais é de pouca compreensão ou empatia, e eles veem isso (a depressão) como uma debilidade, sem entender que poderia acontecer com qualquer um. Ninguém está livre.”
Sobre o aumento dos casos de suicídio a especialista pontua “Acho que muitas vezes os pais entram em um estado de negação e acham que os filhos estão tentando chamar a atenção e não veem isso como um desejo real de morrer. Mas se sabe que toda tentativa de suicídio, inclusive as consumadas, há uma parcela de intenção de mudar o ambiente, mas também uma parcela é desejo real de morrer.”
Para finalizar Ana Marina disse “Essas doenças melhoram. Eu sempre soube, porque vi várias vezes, que a minha filha iria melhorar. As terapias funcionam. E a melhora traz um crescimento e um amadurecimento, graças à experiência. As dificuldades criam recursos psicológicos que vão ser positivos para o resto da vida deles. Se você olha sob essa perspectiva, uma experiência tão difícil como essa pode ganhar um pouco mais de sentido.”