Conheça a história de Angelo Cristiano da Silva Antunes, de Guaratinguetá; amor pelos bichinhos vai muito além da internet
A máxima de que carteiros e cachorros não se dão bem parece ter ficado no passado. Duvida? Ouse dar uma olhadinha nos perfis de Angelo Cristiano da Silva Antunes na internet. Conhecido como o “carteiro amigo dos animais”, ele ganhou milhares de seguidores ao compartilhar a relação de amizade que têm com os cães que encontra pelo caminho no trabalho, em Guaratinguetá, no interior de São Paulo. No Instagram, já são 100 mil seguidores. No Facebook, mais de 265 mil. E quem resiste a um “doguinho” fofo passando pela timeline?
Angelo, hoje com 35 anos, entrou para os Correios em 2013. De forma natural, começou a brincar com os pets das casas em que fazia entregas. Passou a tirar fotos com os novos amigos de quatro patas e a postar em seu perfil pessoal, sem grandes pretensões. “Foi o filho de uma amiga que sugeriu que eu criasse uma página específica para compartilhar o meu dia a dia como carteiro e as fotos com os animais. Nem sei dizer como, mas a repercussão foi muito rápida. Nunca imaginei que iria chegar nesse patamar”, lembra.
A paixão é antiga. O carteiro conviveu com cães desde pequeno. Hoje, tem nove animais em casa – cinco cachorros e quatro gatos. Oito deles foram resgatados das ruas e apenas um foi adotado com a ajuda de uma protetora.
Técnicas de aproximação
Angelo conta que se aproxima dos animais com respeito. “Até os cães entenderem que não vou fazer mal a eles, que quero brincar e fazer carinho, pode levar um tempo. Há casos em que ganho a confiança na hora, mas há também aqueles que demoram semanas ou até meses para baixar a guarda. E é aí que eu registro a amizade, faço selfies e vídeos.”
O carteiro também chega perto de gatos sempre que possível, mas pelas postagens dá para perceber que os cães ainda são a maior parte de seus “fãs”. Esses últimos tendem a ser mais amistosos, além de ainda serem preferência no gosto das famílias brasileiras. De acordo com dados da Pesquisa Nacional de Saúde de 2019, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística em setembro do ano passado, 46,1% dos domicílios tinham pelo menos um cachorro. Já os gatos eram parte de 19,3% dos lares.
Nem todos os carteiros ou entregadores no geral têm a paciência de Angelo. Segundo ele, os colegas costumam fazer o serviço e partir para próxima casa. Justamente por quebrar esse padrão, o carteiro amigo dos animais ganhou o afeto dos bichos e também de seus donos. “A grande maioria dos pais e mães de pets adora o meu jeito. Há até quem peça nas redes sociais para que eu vá até a casa da pessoa para fazer uma foto com o animalzinho dela”, diz.
Muito além das redes
O conteúdo, com o tempo, evoluiu para além da brincadeira. Angelo começou a ajudar os bichinhos de rua que precisavam de cirurgias de emergência e castrações. “Compartilho casos de animais abandonados que precisam de cuidados. Sempre que consigo os ajudo, e alguns dos meus seguidores, por sua vez, me apoiam financeiramente.”
Em seu perfil no Instagram, aliás, ele disponibiliza dados bancários para aqueles que se sentirem à vontade em fazer doações em prol da causa animal.
O carteiro diz que conta com uma clínica parceira, a Centervet, na cidade vizinha Lorena. Todos os procedimentos são pagos – e o dinheiro muitas vezes sai só do bolso de Angelo -, mas o estabelecimento pratica valores fixos e bem mais acessíveis para viabilizar o cuidado dos mais necessitados.
Por conta do trabalho que executa, muitos pedidos de ajuda chegam até ele. O compartilhamento das histórias em seus perfis, porém, ocorre com cautela. “Só divulgo informações que sei que são verdadeiras. Não é raro pessoas pedindo para eu compartilhar fotos de animais e, quando vou ver, nem a própria pessoa publicou a história no perfil dela”, diz. “Além disso, gosto de acompanhar de perto o procedimento e a recuperação daqueles que ajudo. Tento sempre ir à clínica e vou prestando contas aos meus seguidores.”
Planos futuros
Por falta de recursos, Angelo não pode ficar com os cães que ajuda e, se não consegue um lar para eles, precisa devolvê-los às ruas. Não é frequente, mas acontece.
Sua cidade não conta com uma ONG voltada à causa animal, mas há uma rede de protetores que se apoia. Tendo conhecimento dessa demanda não suprida, o carteiro sonha em, algum dia, criar um abrigo para ajudar os bichos em situações mais delicadas. A ideia é dar atenção e cuidado aos que foram atropelados ou que precisem de um tratamento mais longo, como uma quimioterapia.
Angelo acredita que sua relação com os animais é mais que uma conexão, e sim um dom. “Há pouco, fui correr perto da minha casa e encontrei uma cachorrinha. Brinquei com ela e me peguei falando com Deus, questionando qual o meu papel e tentando entender por que eu gosto tanto deles”, relatou à reportagem há alguns dias, quando esta entrevista foi realizada. “O que eu sei é que cães e gatos são tudo de bom. Para muitos, são psicólogos. Vejo caso de pessoas que sofriam de depressão e tiveram seus quadros alterados após a convivência com um bichinho de estimação. Eles são capazes de expressar muito sentimento, por vezes mais até que os humanos”, garante.