Uma história de exploração e abuso chocou a cidade de São Pedro do Turvo, no Rio de Janeiro, quando uma empregada doméstica, Maria de Moura, foi resgatada após 72 anos de trabalho sem salário. Agora, mãe e filho, Yonne Mattos Maia e André Luiz Mattos Maia Neumann, enfrentam acusações de trabalho análogo à escravidão e coação, em um caso que se tornou o mais longevo já registrado no Brasil.
Maria de Moura, que hoje tem 87 anos, chegou à casa da família dos acusados aos 12 anos, vinda de uma família muito pobre do interior do Rio de Janeiro. Desde então, viveu com eles, em uma situação em que as visitas à sua própria família eram controladas e seu celular era mantido sob posse do patrão.
A denúncia do Ministério Público Federal revelou condições desumanas em que Maria foi encontrada, evidenciadas pelas fotos dos locais onde ela dormia, mostrando um sofá sem lençol ou travesseiro. Além disso, relatos de coação e apropriação indevida de documentos por parte dos acusados agravam ainda mais a situação.
Para a promotora Juliane Mombelli, do Ministério Público do Trabalho, este caso representa uma vida inteira em uma condição de exploração: “é o mais longevo, em que a pessoa permaneceu mais tempo nessa situação análoga à escravidão, 72 anos. Infelizmente é uma vida toda nessa condição”, afirmou.
A defesa dos acusados alega que Maria era parte da família, porém, as autoridades alertam que essa ideia pode camuflar uma relação de trabalho degradada, escondida sob a falsa noção de afeto. A historiadora Ynaê Lopes do Santos ressalta que ser “quase da família” pode significar ser “quase humano”, obscurecendo os direitos da vítima.
A triste saga de Maria de Moura destaca a importância de enfrentar e denunciar situações de exploração e abuso, mesmo quando camufladas por relações supostamente afetuosas. O Ministério Público Federal reitera seu compromisso em combater o trabalho análogo à escravidão e garantir a dignidade e os direitos humanos de todos.