Tarcísio Freitas, pré-candidato ao Governo de São Paulo pelos Republicanos, deu suas primeiras declarações sobre segurança pública e irritou integrantes da cúpula das polícias Civil e Militar e membros da Promotoria e geraram desgaste ao ex-ministro da Infraestrutura em um reduto tradicionalmente bolsonarista.
Na última sexta-feira (1º), Tarcísio disse em entrevista, que a segurança pública paulista havia ruído e que um dos motivos para isso seria um suposto pacto com o crime organizado.
“São Paulo tem uma coisa interessante que o paulista não percebe: a associação com o crime organizado. São Paulo fez um pacto com o crime organizado, de não combatê-lo. E por que se optou por não combater o crime organizado? Porque combater o crime organizado dá efeito colateral”, disse o pré-candidato.
De acordo com Tarcísio esses efeitos colaterais seriam a reação dos criminosos com a morte de policiais, queima de ônibus, assalto a bancos e aumento da insegurança.
“O problema é que quando você não combate, o crime cresce, e ele se infiltra no poder. E aí ele acaba se tornando força política”, disse o pré-candidato.
Tarcísio se tornou alvo de dois pedidos de investigação por parte de parlamentares por causa das declarações. Um dos autores é o deputado estadual Delegado Olim, filiado ao PP partido que, na esfera federal, apoia a reeleição de Jair Bolsonaro (PL), mas que em São Paulo pode se juntar a Rodrigo Garcia (PSDB).
O deputado federal Alexandre Frota (PSDB) é o outro parlamentar que apresentou ao Ministério Público de São Paulo representação contra Tarcísio.
“A gente precisa entender se essa é mais uma falácia dele, mais uma fake news, porque ele precisa provar o que ele falou”, afirmou o parlamentar à reportagem.
Questionado pela reportagem, Tarcísio não apresentou detalhes do suposto acordo nem comentou se teria provas e quais seriam elas.
O ex-ministro disse que defende “a valorização das polícias e a articulação com a União” e que o “combate ao crime organizado precisa ser priorizado e é um importante desafio a ser enfrentado pelo próximo governador”.
Segundo a assessoria de Tarcísio, ele “afirmou que o combate ao crime organizado não é uma prioridade do atual Governo de São Paulo”. “A presença da maior facção do estado é um fato que está diariamente no noticiários e que é sentido cotidianamente pelas famílias, principalmente as mais pobres”, disse.
As palavras do pré-candidato do Republicanos irritaram integrantes das cúpulas das polícias paulistas.
Na PM, as críticas foram chamadas internamente de “no mínimo infelizes” e houve menções ao fato de Tarcísio ser carioca, e não paulista. O incômodo na Polícia Civil levou integrantes a citar as ações para indiciar e bloquear os bens de toda a família de Marco Camacho, conhecido como Marcola e considerado principal chefe da facção criminosa PCC.
Em nota, a Secretaria da Segurança Pública paulista, ligada à gestão Rodrigo Garcia, decidiu rebater publicamente as afirmações do candidato bolsonarista.
“As ilações do ex-ministro, além de descabidas e irresponsáveis, revelam o absoluto desconhecimento do tema segurança pública, em especial no que se refere ao estado de São Paulo. Só nos últimos dois anos, mais de R$ 1,2 bilhão em ativos ligados às facções foram recuperados pelas forças de segurança estaduais”, diz trecho da nota, que elenca uma série de ações.
Membros do Ministério Público citaram que Lincoln Gakiya, um dos promotores de São Paulo responsáveis pelo combate ao crime organizado, teve sua morte encomendada por integrantes do PCC após apresentar pedido de transferência de líderes do grupo para presídios federais.
Isso acabou ocorrendo em fevereiro de 2021, em uma das primeiras ações do governo João Doria (PSDB). Marcola e outros 21 criminosos ligados à facção foram transferidos ao sistema federal.