Médica de Família da Unimed Marília, Dra. Beatriz Yuri Shimabukuro Bastos, esclarece o tema
No dia 5 de dezembro, comemora-se o Dia do Médico de Família e Comunidade, profissionais que desempenham um papel essencial na atenção primária à saúde. Para esclarecer à comunidade como atua esse especialista, convidamos a Dra. Beatriz Yuri Shimabukuro Bastos, Médica de Família e Comunidade há 17 anos e Coordenadora da Atenção Primária à Saúde (APS) da Unimed Marília
1- O que o Médico de Família e Comunidade trata?
O Médico de Família e Comunidade é especialista nos problemas de saúde mais comuns das pessoas, independente de idade, gênero ou da parte do corpo acometida. Isso significa que as principais condições de saúde de uma pessoa podem ser resolvidas pelo Médico de Família e Comunidade.
Costumo dizer que uma mulher que tenha hipertensão, hipotireoidismo e sintomas depressivos, poderia passar pelo menos com 4 especialistas para atender às suas necessidades, ou pode acompanhar com um Médico de Família, que irá cuidar de todas elas.
2- Quais são os diferenciais dessa modalidade da medicina?
Essa modalidade da medicina traz alguns conceitos que a norteiam. Vou citar alguns. Um dos principais atributos é o acesso. Sempre que o paciente precisar de alguma assistência, ele vai encontrar o atendimento que precisa com o Médico de Família ou com sua equipe.
Continuidade do cuidado ou longitudinalidade: o médico pode acompanhar o paciente ao longo de toda sua vida, desde o nascimento até o fim da vida. Passa a ser o médico de referência para o paciente, aquele que é procurado sempre que o paciente necessita de algum cuidado e isso gera uma relação médico-paciente ímpar.
Quanto mais o médico conhecer o paciente, maior a sua capacidade de cuidar dele. Cuidado centrado na pessoa: na medicina tradicional, o cuidado é centrado no médico. Para o Médico de Família, o foco é o paciente, portanto, os cuidados devem ser adequados a ele e não o inverso. Isso traz uma mudança de paradigma no sistema de saúde, pois entende que é o paciente o elo mais importante, devendo-se adequar os cuidados às suas necessidades.
Coordenação do cuidado: envolve fazer o direcionamento para outro serviço ou especialidade adequados no momento certo, isto é, mesmo que precise ser encaminhado a outro serviço, o médico avalia e indica qual é o melhor serviço ou especialidade para resolver aquilo que o paciente apresenta; não ficando a cargo deste ficar buscando atendimento em vários especialistas para descobrir qual é o mais indicado para ele. A coordenação do cuidado é também o acompanhamento do percurso do paciente mesmo quando está passando em outros serviços, e é muito importante para a continuidade dos cuidados oferecidos, afinal, em vários casos ele vai precisar seguir com algum tratamento após um atendimento em pronto-socorro, ou após uma cirurgia.
O médico de família é especialista em consultas domiciliares, ou seja, para aqueles que têm alguma sequela motora, alguma dificuldade de locomoção, o médico de família pode realizar a consulta no domicílio, garantindo o melhor cuidado ao paciente que não consegue ir facilmente ao serviço de saúde.
O atendimento pode atender no consultório, como os outros médicos ou em hospitais. Pode trabalhar com uma equipe de saúde da família, multiprofissional, em que cada um tem o seu papel no cuidado do paciente. A equipe mínima é composta por um enfermeiro e um técnico de enfermagem, mas podem compor também: pediatra, psicólogo, nutricionista, fonoaudiólogo, fisioterapeuta, assistente social, entre outros.
Essa abordagem é a que mais me encanta na especialidade, pois mediante um cuidado em equipe, conseguimos alcançar uma resolutividade muito maior.
Há vários trabalhos internacionais que comparam os desfechos em saúde de populações cuidadas por médicos de família e suas equipes com populações cuidadas por médicos-especialistas em modelo tradicional. Todos apontam para uma redução de complicações, urgências e emergências e, portanto, melhores desfechos das populações cuidadas por equipes de saúde da família. E por que isso acontece? O foco da medicina de família e comunidade é a pessoa, com suas doenças e suas necessidades e o olhar integral para essa pessoa possibilita conhecer o histórico que gerou a doença, as relações com fatores que possam piorá-la e melhorá-la, e isso tudo leva a diagnósticos mais precisos e tratamentos que englobam além do uso de medicamentos, orientações mais assertivas e tratamentos que vão de encontro com esses aspectos particulares de cada pessoa.
Portanto, os impactos da medicina de família e comunidade são diagnósticos precoces, redução de complicações, maior adesão aos tratamentos propostos, redução de internações por condições atendidas pela medicina de família, redução da necessidade de idas a prontos-socorros, redução de intervenções desnecessárias e outros.
3-Qual a diferença entre um Médico de Família e um Clínico Geral?
Devido ao público e às situações que o Médico de Família resolve, ele passa a ser o médico de referência da pessoa, independente do que está acontecendo com ela. Ele resolve em torno de 80% das situações clínicas de uma pessoa. Isso estreita a relação médico-paciente e permite entender os contextos relacionados às doenças que a pessoa apresenta e assim, o médico pode fazer diagnósticos mais precoces e atuar de forma mais abrangente, nas causas de alguns destes problemas.
O Médico de Família trabalha com base em alguns conceitos que colocam o paciente no centro do cuidado e envolve vários processos definidos para alcançar os melhores resultados. Por isso tudo é que se diz que é especialista em pessoas. Clínico Geral é o nome dado ao médico recém-formado, que não fez nenhuma especialização, fez apenas a faculdade de medicina. No geral, faz-se uma residência médica ou algum curso de pós-graduação.
Pode ser, também, o nome dado ao profissional que fez a especialização em clínica médica. Neste caso, ele atende a um público específico: os adultos, e a áreas da medicina que compõem a clínica médica, como, por exemplo: cardiologia, pneumologia, reumatologia, endocrinologia, etc, podendo, portanto, atender a todas essas condições, contando também com os outros especialistas nas situações mais raras ou graves.
4- Como funciona o atendimento do Médico de Família?
A estrutura da consulta é um pouco diferente da consulta tradicional.
Utilizamos uma estratégia chamada método clínico centrado na pessoa, que consiste em:
a) Explorar a doença e a experiência da pessoa com a doença: aqui entra o diálogo do paciente com o médico, para que este compreenda o que está acontecendo, o exame clínico e o entendimento do quanto aquilo afeta a pessoa.
b) Entender a pessoa todo: compreensão de aspectos do contexto social, convivência, histórico de vida.
c) Elaborar um projeto comum de manejo: aqui se identificam quais os diagnósticos/problemas que a pessoa apresenta, quais são prioridades e como será o tratamento e quais as metas. Este plano é compartilhado com o paciente, para que ele compreenda e participe de forma ativa do que será estabelecido para ele.
d) Incorporar a prevenção e a promoção de saúde, reduzindo riscos e complicações: aqui é onde entram orientações baseadas na coleta de informações feita anteriormente.
Entendemos que cada pessoa é única, com sua história e seu contexto, por isso o tratamento deve ser individualizado.
5- Como você aborda a medicina preventiva e a promoção da saúde na sua prática diária?
A melhor forma de abordar a prevenção de doenças e promoção da saúde é através do método centrado na pessoa. Só assim, podemos adequar algumas orientações e medicações, que seriam gerais e especificar para cada paciente, de acordo com suas necessidades e possibilidades.
6- Qual a sua filosofia de tratamento ao lidar com pacientes de diferentes idades e necessidades de cuidados de saúde?
O estabelecimento de uma sólida relação de confiança entre o médico e o paciente viabilizam o cuidado das diversas necessidades para diferentes púbicos. É importante estar atento aos riscos de cada idade, a protocolos baseados em evidências para cada público e estar aberto a entender qual é a demanda que cada um traz.
7- Quando procurar um médico de família?
Quanto antes e a qualquer momento. Não espere adoecer para buscar um atendimento como este. Seja em consultas de rotina ou de urgência, para qualquer pessoa, esteja doente ou não.