Pelo menos R$ 697 mil do cartão corporativo foi gasto pelo ex-presidente Bolsonaro em eventos da campanha eleitoral em que tentou a reeleição, mas foi derrotado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Os valores dos gastos em viagens durante a campanha, entre agosto e outubro, podem ser ainda maiores porque nem todas as notas fiscais foram tornadas públicas. O uso do cartão para esse tipo de gasto não foi justificado por Bolsonaro nem pelo partido dele.
As planilhas dos gastos foram divulgadas em resposta à agência Fiquem Sabendo por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI). As notas estão em relatórios classificados como “atividade eleitoral”.
Bolsonaro participou de 21 eventos eleitorais e em todos eles utilizou dinheiro público para pagar serviço aéreo, hospedagem, lanches, combustível e até itens de estrutura para seus apoiadores, como gradis para o cercadinho. Entre as notas existem também pedidos de delivery via iFood e também gastos com borracharia.
Quando cumpriu uma agenda de campanha em Petrolina, no Sertão de Pernambuco, em 3 de outubro, por exemplo, o então candidato usou R$ 1,8 mil do cartão corporativo para pagar por passagens aéreas.
Já em agosto, em uma agenda de campanha na Bahia, Bolsonaro fez uma motociata em Vitória da Conquista. Na comitiva, além de candidatos, estava o empresário Luciano Hang.
Na ocasião, o cartão corporativo da presidência gastou R$ 50 mil só em lanches, sendo 1.024 lanches frios de uma padaria e 512 barras de cereal, entre outros itens. Cerca de 50 pessoas da equipe de segurança também se hospedaram por três dias na cidade, acrescentando R$ 44,7 mil à fatura do cartão corporativo.
Bolsonaro, a quatro dias do segundo turno, participou de um evento de campanha em Teófilo Otoni (MG), onde o cartão corporativo gastou R$ 63 mil em hospedagem, lanches e um cercadinho para proteção.
No dia 4 de outubro, em São Paulo, onde visitou duas igrejas da Assembleia de Deus, e em Aparecida (SP), no dia 12, durante celebração no santuário da padroeira, a despesa paga com cartão corporativo somou R$ 64 mil. Só em Aparecida, foram gastos R$ 40.255,80, sendo R$ 18 mil com hotel e R$ 15.946,80 com lanches.
Em 15 de outubro, em Fortaleza, o cartão custeou a compra de 566 kits lanches por R$ 20.312 em outro evento classificado como “atividade eleitoral”.
Também foi identificado pagamento de R$ 8.650 para um delivery de iFood durante campanha em Belo Horizonte, em 24 de agosto, além de gasto com cercadinho, na mesma cidade, em 24 de setembro no valor de R$ 2.000.
A legalidade do uso do cartão para esse tipo de despesa é controversa. A lei prevê que o partido ou a coligação deve ressarcir a União em gastos de transporte pessoal do candidato e sua comitiva durante o período eleitoral, em um prazo de dez dias.
Especialistas em direito eleitoral foram consultados pelo site sobre a legalidade dos gastos de Bolsonaro com o cartão corporativo. Segundo eles, não é permitido o emprego de recursos públicos em viagens eleitorais nem mesmo mediante ressarcimento à União, com exceção do uso de transporte.