A 4ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro aceitou o pedido dos três acionistas majoritários da rede varejista Americanas para fazer um empréstimo de R$ 2 bilhões à empresa. Os acionistas dizem que esse aporte servirá como capital de giro para a Americanas se manter em funcionamento.
Esse empréstimo faz parte do pedido de recuperação judicial da companhia. A medida acendeu o sinal de alerta dos bancos e outras empresas, principalmente de varejo, que começam a ter dificuldades para negociar suas dívidas.
A rede de lojas Marisa, por exemplo, que acumula um rombo de R$ 600 milhões, tem encontrado obstáculos para fazer uma renegociação.
Pressionada por dívidas que vencem no curto prazo, a rede de moda feminina contratou um banco de investimentos e uma consultoria especializada em crises para fazer a reestruturação do negócio.
Nesta quinta-feira (08), as ações da companhia fecharam o pregão valendo R$ 0,83. No último ano, o valor dos papéis negociados em bolsa teve uma desvalorização de 74%. Por conta do escândalo contábil da Americanas, a Lojas Marisa tem encontrado resistência de instituições financeiras para renegociação de dívidas.
O caso da rede de moda indica, segundo os economistas, uma questão estrutural que pode afetar não só o setor de varejo brasileiro no curto e médio prazo.
Muitas empresas fizeram empréstimos quando os juros do mercado estavam baixos. Agora têm de arcar com taxas mais altas cobradas pelos bancos. “Nesse momento, todos os bancos estão revendo o que a gente chama de provisão para devedores duvidosos, o seu nível de inadimplência, o banco tá mensurando isso”, afirma o economista Fabio Astrauskas.
A Americanas tem quatro novos processos administrativos na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), vinculada ao Ministério da Fazenda e responsável pela regulação do mercado de capitais. A CVM vai apurar se houve maquiagem nos balanços dos últimos anos, feitos pelas auditorias independentes da PwC e KPMG entre 2017 e 2022.
Os acionistas minoritários da Americanas também entraram com uma ação civil pública para responsabilizar a PwC pelas perdas dos investidores. “Há de se iniciar uma grande discussão não só sobre como esses resultados têm de ser divulgados, mas também o papel das empresas de auditoria que são o lastro importante para os investidores, principalmente aqueles pequenos investidores que não têm informações um pouco mais detalhadas sobre as operações de modo geral”, pontua o presidente do Ibevar, Claudio Felisoni.