Saiba quem é a mulher que matou o marido e escondeu o corpo no freezer

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A pedagoga Claudia Tavares Hoeckler, 40, confessou ter matado o marido e escondido o corpo dele dentro do freezer. Ela relatou ter tido uma vida marcada por abusos e abandonos desde os primeiros anos de vida.

Claudia afirma ser filha de uma garota de programa, ter sido criada por uma desconhecida nos primeiros anos de vida e engravidado na adolescência.

Ela iniciou os estudos tardiamente, foi abusada sexualmente pelo padrasto e nunca conviveu com o pai

Horas antes de ser presa, Claudia afirmou que se sentia “mais livre do que nunca”. O último de seus agressores, segundo ela, foi o marido com quem viveu por mais de 20 anos: Valdemir Hoeckler, 52.

De acordo com Claudia, na noite anterior ao assassinato, ela foi agredida e ameaçada de morte pelo marido. O casal morava em Lacerdópolis (SC).

Claudia matou o marido asfixiado enquanto ele dormia sob efeito de medicamentos no dia 14 de novembro, antes de esconder o seu corpo no freezer. O corpo do motorista só foi encontrado no último sábado (19), cinco dias depois do crime.

Ela alegou que era vítima de agressões e ameaças de morte do marido, com quem tinha um perfil conjunto em uma rede social.

Claudio Dalledone, advogado de Claudia, afirma que irá pedir para que a pedagoga responda ao processo em liberdade. “Vamos colocar todas as circunstâncias para que a juíza da comarca fique sabendo de todo esse cenário de horrores [que ela vivia] e vamos pedir para que a juíza imponha condições para que ela responda esse ato em liberdade”, disse.

O advogado define sua cliente como “uma mulher maltratada e violentada, física e psicologicamente que, para preservar sua vida, matou”.

Claudia nasceu em Chapecó (SC) quando sua mãe, que trabalhava como prostituta, tinha 16 anos. Uma irmã, nascida pouco depois, foi entregue para a adoção. Ela afirma que morou em uma casa “onde ficavam os filhos das prostitutas” até os quatro ou cinco anos e, com essa idade, foi levada pela mãe para a casa de uma senhora que a criou até os seus 12 anos.

Claudia disse ter começado a estudar aos sete anos graças à ajuda de vizinhos, que arrecadaram material escolar doado e a matricularam em uma escola

O pai nunca a registrou como filha. “Eu conheci ele com 28 anos. E eu o vi só uma vez na vida.” Ela se emocionou durante a entrevista ao lembrar que idealizava um encontro com ele quando ainda era criança. “Eu tinha amigos, mas não era uma criança normal. Eu sempre sonhava que o meu pai queria me conhecer. E sonhava que um dia ele iria estar no portão da escola, me esperando. Mas ele nunca veio. Eu sonhava em ter uma família, eu sonhava em ter irmãos, eu sonhava em ter uma família normal”.

A mãe voltou à vida de Claudia quando ela tinha 12 anos, para pedir ajuda da filha para cuidar das crianças, fruto do novo relacionamento que mantinha.

“Minha mãe ficou um ano sem me visitar. Quando eu tinha 12 anos, ela apareceu. Ela tinha casado, tinha uma filha e estava grávida. Me chamou para que eu fosse morar com ela para cuidar das crianças”, lembra.

Ela relata que sofreu abusos sexuais do padrasto naquela época. “Foi um período conturbado. Meu padrasto… mexia comigo. Só mexia nas minhas partes íntimas. Conforme fui crescendo, fui me defendendo. Aí, ele parou.” Claudia nunca contou para a mãe sobre o que acontecia.

Quando tinha 17 anos quando começou o namoro com Valdemir. Ele tinha 29. Na época, a mãe dela tinha uma lanchonete onde Valdemir revendia cigarros comprados no Paraguai. “Eu me senti protegida. Eu vi nele uma pessoa que ia cuidar de mim” disse Claudia.

Após quatro meses de namoro, Claudia descobriu que Valdemir era casado e tinha três filhos. “Mas eu já estava apaixonada e acabei aceitando. A minha mãe proibiu [o namoro], mas eu continuei saindo com ele escondida, e acabei engravidando”, conta.

Após revelar a gravidez, Claudia disse ter sido expulsa de casa pela mãe e rompido o relacionamento com Valdemir. Ela relata que passou a gestação trabalhando como cuidadora de uma idosa. Sem apoio, ela lembra que decidiu entregar a filha para adoção, mas desistiu ao pegar a criança no colo logo depois de dar à luz.

“Eu não iria pegá-la nos braços. Mas aí eu me lembro que passei a noite cuidando dela. Aí, eu prometi que iria criar ela do jeito que eu pudesse” disse Claudia.

Claudia disse só ter retomado o contato com Valdemir quando a filha contraiu pneumonia, com três semanas de vida. “Tive que ligar para ele e pedir dinheiro”, diz.

Mesmo casado, o namoro foi reatado e as agressões começaram. Ela cogitava terminar o relacionamento, mas sofria ameaças. “Ele ameaçava que iria tirar a minha filha de mim. Depois da agressão, ele agia como se nada tivesse acontecido. Eu tinha muito medo dele”, lembra.

Ela conta que vivia uma espécie de conflito interno, porque se sentia protegida com Valdemir ao mesmo tempo em que vivia um relacionamento abusivo. “Eu sempre tive a necessidade de ter alguém que me protegesse. E, para mim, ele iria me proteger. Ele iria ser amigo, o pai que eu nunca tive. E eu iria dar uma família para a minha filha.”

Claudia disse ter tentado fugir e até mesmo viver um outro relacionamento, já que não aceitava mais ser amante. Foi quando Valdemir deixou a esposa para viver com ela e a filha. Mas ele sempre agia com violência quando contrariado.

Ela disse que o marido tinha o cuidado de agredi-la em locais onde as marcas da violência não ficassem aparentes. Houve, segundo ela, uma escalada da violência. “Uma vez, ele passou a noite inteira dizendo que iria me matar. Ele dizia que, se eu não obedecesse e não ficasse com ele, ele iria me matar.” Em outro momento, Claudia relata: “As agressões aconteciam quase sempre no quarto. Eu sofria calada.”.

Claudia relata que, em uma das discussões, tentou se jogar do carro em movimento. “Eu preferia morrer do que viver aquele inferno. Várias vezes eu quis morrer”, disse. Ciúme até da própria filha. Segundo ela, o marido tinha ciúme até mesmo da relação de amizade que ela tinha com a própria filha do casal. “Às vezes, a gente tinha que fingir que brigava para ter um bom relacionamento em casa”, conta. Ela disse que a filha decidiu sair de casa quando tinha apenas 18 anos por não aguentar a convivência em casa. “E ela nunca mais voltou. Nunca mais falou com o pai.”

A moça só foi registrada por Valdemir aos dez anos de idade. Claudia relatou que a jovem compreendeu a mãe. “Eu sinto que minha filha está mais segura, entende? Eu sei que é meio louco dizer isso mas eu acho que a gente vai conseguir se ver mais e não vai ter ninguém impedindo da gente se ver”, disse. “Ele não queria que eu trabalhasse.” Claudia disse que precisava sair escondida para trabalhar, porque o marido não queria que ela ficasse por muito tempo longe de casa. “Se eu confrontava, minha vida virava mais inferno ainda. Então, era melhor eu me calar e só escutar.”

Ela tentou deixar o marido em 2019, quando procurou a Polícia Civil para denunciá-lo. “Eu pedi medida protetiva. Mas o que é um boletim de ocorrência? Se o homem chega lá e te agride, aí você chama a polícia. E, quando a polícia chega, você já está morta. Essa é a realidade. É ou não é?”, questionou.

Depois disso, ela voltou a se acertar com Valdemir, que pediu que ela retirasse a queixa. Ela obedeceu. Mas a relação de ciúme e possessão se agravou nos últimos anos, segundo ela. “Eu não tinha vida própria. Não podia nem sair com as amigas. Eu ia no salão e tinha que sair com cabelo molhado porque ele estava enchendo o saco. Porque eu estava demorando”.

No dia 13 de novembro, um dia antes do crime, Claudia tinha ido em uma confraternização com outras professoras. Ela fez questão de informar todos os passos ao marido, com mensagens, chamadas de vídeo e fotos mostrando onde estava. “De repente, ele aparece lá na pizzaria. Algumas pessoas deram risada.” Mas a gota d’água foi uma viagem que ela faria com as colegas. “Ele me bateu e disse que eu não iria. Que, se eu fosse, ele iria me matar. Então, eu falei para as meninas que estava com dor de garganta.”

No domingo, tentou convencer novamente o marido a deixá-la viajar na segunda-feira pela manhã, mas, Valdemir disse que se acordasse e não visse a esposa, a mataria quando ela voltasse para casa. Diante da negativa e da ameaça, Claudia disse que “teve um surto”: Eu pensei: “já que alguém vai morrer, então seja você”.

Após dar remédios para dormir ao marido, junto com outros medicamentos de rotina, ela esperou ele adormecer e cobriu sua boca e nariz com uma sacola de supermercado. Enquanto o asfixiava, pensou em parar, relata, mas disse que desistiu porque, “se eu parasse e ele acordasse, ele iria me matar. Era eu ou ele”.

Claudia relata que, apesar de viver um relacionamento abusivo, era responsável por aconselhar as amigas. “Eu dizia que elas não deviam deixar os homens mandarem nelas, que eles não podiam ser agressivos. Eu dizia, mas elas nem imaginavam o que eu passava.”

Agora, a pedagoga se considera uma mulher livre, apesar de confessar um homicídio. Ela afirma que se sente um monstro, mas acredita que sua história pode ajudar outras mulheres que “sofram o que ela sofreu”. Eu espero que algumas mulheres estão no começo, ou que estejam no mesmo que eu passei, que veja a minha história e não repita.

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