Por mais de dois anos, uma mulher de 21 anos sofreu assédio sexual por parte do pastor de uma igreja em Botucatu através de insistentes mensagena por suas redes sociais.
Nesta semana ela resolveu dar um fim na situação, e denunciou na quarta-feira (21) o pastor, registrando um boletim de ocorrência na Delegacia de Defesa da Mulher (DDM).
De acordo com a vítima, o pastor, que é casado, enviava mensagens insinuadoras e com muitos elogios a ela, com bastante frequência, desde o final de 2019. Eles frequentavam a mesma igreja.
Em uma ocasião, há cerca de um ano, a mulher foi a um culto em Areiópolis, onde encontrou o suspeito, que, segundo ela, a convidou para “tomar um vinho em uma banheira de espuma, mas sua mãe não poderia saber disso”.
A mulher começou a se sentir incomodada quando percebeu um cunho mais sensual nas mensagens do pastor. “Você entende quando alguém te elogia por te achar bonita e também entende quando começa a ter segundas intenções”, explica.
“No primeiro momento, eu fiquei sem reação, pelo fato de que nossas famílias eram próximas, cresci perto dos filhos dele e tudo mais. Foi esse o principal motivo de eu não conseguir ter falado antes o que acontecia.”
Pelas mensagens, o suspeito fazia elogios e convites à mulher repetidas vezes e insistentemente.
Em uma das ocasiões, em julho de 2022, o pastor escreveu: “como eu queria…”. Em seguida, a vítima questionou a mensagem. O suspeito, então, completou: “ter ‘vc’ nos meus braços e te levar até as estrelas… Mas acho que é só sonho né… Te ‘love’ todinha”.
Na sequência, ele pediu para que a mulher deletasse o conteúdo da conversa: “apaga essas mensagens pelo amor de Deus”.
Em outro momento, o homem pediu para que, caso respondesse, a mulher enviasse mensagens a ele apenas durante o dia.
“O fato de ele sempre falar para apagar as mensagens e não contar a ninguém, porque senão ia dar problema, me deixava acuada.”
Ainda em julho, por mensagem, o suspeito sugeriu que não pudesse tornar público o interesse pela vítima, mas que, ainda assim, continuaria “shippando” (isto é, desejando que os dois se relacionassem) a mulher “em off”.
“Você é linda, eu gosto de você… Te admiro muito… ‘C’ sabe que eu não posso curtir tudo de ‘vc’ né… Mas em off eu curto tudinho… ‘C’ sabe que eu vou continuar a te shippar sempre né… Sempre em off…”, escreveu.
No início deste mês, no dia 5 de setembro, o pastor se aproveitou do aniversário da vítima para enviá-la outra mensagem.
No texto, ele escreveu: “Você é linda, alegre, amiga, companheira, são tanto adjetivos bons que, se eu for citar, vou ficar o dia todo digitando… Recebe meu abraço, feliz aniversário… Amorosa, linda, perfeita, charmosa, delicada, gentil, linda, compreensiva, delicada…”.
Por um período, a vítima e a família decidiram mudar de igreja. Ela diz que nunca se afastou dos cultos por causa da perseguição, mas sua relação com os fiéis da comunidade foi prejudicada.
“Eu ficava um pouco mais afastada das pessoas para não deixar transparecer o que estava acontecendo, por medo de os outros perceberem”.
A mulher então tomou a iniciativa de registrar a denúncia após ser incentivada pelo irmão. “Eu não aguentava mais manter isso só comigo. Meu irmão mais novo via as mensagens e era o único que sabia. Ele me ajudou a criar forças e a falar tudo para a minha família”, diz.
A mulher só retornou à primeira igreja recentemente, depois que o pastor, segundo ela, foi transferido para outro ministério.