A fome vem atingindo cada vez mais famílias no Brasil, e em Marília não é diferente. Apesar de ser conhecida como capital nacional do alimento, de acordo com o Cadastro Único, 11,8 mil famílias em Marília recebem menos de meio salário-mínimo e se encontram em situação de vulnerabilidade.
Vanusa Salviano dos Santos, de 38 anos, é moradora do bairro Palmital, na zona Norte de Marília. Ela é mãe de duas crianças e grávida de oito meses da terceira, em uma gestação não programada.
Sem comida preparada ou alimentos perecíveis, a família chega a desligar a geladeira durante algumas horas por dia, para a conta não vir ainda mais cara.
“Fica só consumindo energia, que está atrasada. Mês passado recebi uma cobrança de R$ 164.”
O aluguel custa R$ 500, valor que pesa no orçamento da família, que tem renda inferior à um salário-mínimo.
Vanusa conta que a renda familiar é composta pelo Auxílio Brasil e os inconstantes bicos do marido, como pintor ou ajudante de pedreiro, desde que ela foi demitida do supermercado onde trabalhava em 2021.
Vanusa acabou desenvolvendo problemas psicológicos diante a tantos problemas, como a síndrome do pânico, e sua gravidez é de risco. “O que me ajuda a seguir lutando é a fé”, disse Vanusa.
Atualmente o país conta com cerca de 33,1 milhões de pessoas sem ter o que comer no dia a dia. Esse número é praticamente o dobro da população em situação de fome em 2020, segundo dados da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Penssan).
Em Marília, os dados de abril deste ano, indicam 14,6 mil famílias nessa faixa. O aumento é de 23% em relação ao ano passado.
Conforme o relatório do 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, da Rede Penssan, nos últimos dois anos o “país regrediu para um patamar equivalente ao da década de 1990”.
Em momentos de desespero, Vanusa disse que já chegou a pedir doação de alimentos para seus filhos pelas redes sociais, mas hoje o celular que usa sequer tem acesso à internet.
“Hoje mesmo eu não comi nada de manhã, o quilo do café está quase R$ 20. Não dá para comprar um feijão, que está em R$ 22 o pacote. Há dez anos eu pagava R$ 3 no quilo do feijão. O arroz custava R$ 10,99, hoje não consigo fazer mercado. Para piorar, o gás está caro”, disse Vanusa.
Mesmo com tantos desafios, a família tentar enxergar a nova filha que deve nascer nas próximas semanas como mais um motivo para lutar. Ao mesmo tempo, isso também implica em mais despesas.
“Eu descobri a gravidez aos três meses de gestação quando estava marcando a cirurgia para retirada de um mioma no útero. Não estava nos planos”, disse Vanusa. “Agora preciso de fraldas, enxoval e outras coisas. Ganhei um berço nos últimos dias, mas não tenho nada além disso”.
Com a aproximação do inverno, as crianças também precisam de agasalho. Doações podem ser feitas diretamente para a família.
Doações destinadas a famílias em situação de vulnerabilidade podem ser feitas diretamente ao Fundo Social de Solidariedade, vinculado à prefeitura de Marília. O endereço é Rua Nove de Julho, número 1.594. O telefone é o (14)-3417-6650.
Também existem Organizações Não Governamentais (ONGs) que ajudam pessoas necessitadas na cidade, como o grupo Amigos do Bar, com sede na Rua Rio Grande do Sul, número 234. Contato pelo telefone (14) 9-8114-0055.