A Exclusão da Cidadania: já temos nossa própria identidade e marca registrada.
A mercantilização dos direitos já é um crime, quando se relaciona a um teto torna-se ainda mais cruel, sádico e perverso. As relações imorais e escandalosas entre o poder público e a iniciativa privada jogam a Constituição na lata do lixo: já não há políticas públicas de moradia popular. Há quanto tempo você não vê um conjunto habitacional popular? Puxe pela memória. Não é necessário, apesar de importante, recorrer à história para sabermos como chegamos neste ponto. Há teses, estudos e defesas acadêmicas e investigativas sobre o tema, basta uma pesquisa rápida no google.
Restou a prisão às ordens do mercado, suas análises frias e o lucro de grandes construtoras. A cidadania se resume, hoje, a um CPF e renda, envolvidos numa extensa burocracia processual de documentos. Enquanto empresários riem e se banham em champagne, quem realmente grita por dignidade padece. Enquanto gabinetes e escritórios servirem de alcova de contratos, benefícios, negociatas e geração de riqueza sempre estará tudo sempre bem. Afinal, tudo se conquista por mérito e esforço, não é mesmo!?
Mas sem problema algum: essa gente oferece milhares de empregos, diretos e indiretos. Garante moradias a “muita” gente. Cresce por seu mérito. Paga impostos. Até doa a instituições e patrocina atletas. Empreendedores? E, por fim, representa tudo aquilo que nós gostaríamos de ser e ter: luxo e sucesso!
Já não é só a política o grande dilema deste País. É uma escolha de capitalismo, com direita ou esquerda no poder, que apenas teme a perda da troca política que garante, única e exclusivamente, seus privilégios e de sua restrita roda de companheiros.
Sejamos francos: a opção não é entre Lula e o Bolsonarismo, é entre qual projeto de País acreditamos e queremos – que não somente nos inclua, mas também ao outro que desconhecemos. No fim, é sempre sobre nós, enquanto pessoas e crenças existenciais. O mundo que queremos não apenas cercados por nossos muros e patrimônios.
Enquanto isso tudo não muda, e dificilmente mudará, rechaçamos movimentos sociais de defesa de moradia, afinal são baderneiros comunistas que invadem casas e prédios. Ironicamente bradamos, ironicamente aos quatro ventos, a defesa de direitos – os mesmos de tais movimentos. Talvez aqueles sejam mais legítimos, enquanto nós posemos de progressistas, equilibrados ou cristãos, já pensou?
Ao mesmo tempo que a realidade se impõe, a especulação imobiliária olha com bastante carinho a demanda: milhares de famílias que continuam a honrar com seus aluguéis. Estas devem possuir capacidade de pagamento, são competentes e promovidas ao inquilinato, mas inaptas à garantia de sua própria morada. É claro… sua situação beneficia e faz girar a roda do mercado. Tudo faz muito sentido, não?
Edson Ferreira da Silva.