Depois de liderar uma oposição ferrenha à Lula (PT), o bispo Edir Macedo, líder de uma das igrejas evangélicas, defende agora que a posição mais cristã é perdoar o presidente eleito e “bola pra frente”. Isso porque sem o apoio do atual presidente perderia recursos para a Record, além de ter medo da Receita Federal.
“Não podemos ficar com mágoa, porque é isso que o diabo quer”, afirmou o fundador da Igreja Universal do Reino de Deus.
“O diabo quer acabar com sua fé, com seu relacionamento com Deus por causa de Lula ou dos políticos. Não dá, não dá, minha filha, bola pra frente, vamos olhar pra frente.”O novo discurso aconteceu durante uma live que o bispo Edir Macedo postou em suas redes sociais. Na live, Macedo disse que orou por Jair Bolsonaro (PL), mas que a vitória de Lula foi uma escolha divina.
“Eu orei, ‘ó, Deus, quero que Bolsonaro ganhe’. Mas seja feita Vossa vontade, sobretudo, porque o Senhor é quem manda.”
Lula, que voltará para um terceiro mandato “supostamente ganhou segundo a vontade de Deus, mas quem ganhou fomos nós, os que cremos”, afirmou o líder neopentecostal.
De acordo com Edir Macedo, por carregarem muita mágoa e ressentimento, muitos têm dificuldade de perdoar, “e quanto mais tempo passa, mais difícil vai ficando”.
Ele também afirmou que “não precisa sentir para perdoar”, porque “o perdão é uma atitude pensada, raciocinada, é uma atitude racional, porque se você esperar sentir, no coração, vontade de perdoar, você não vai perdoar nunca, jamais, em tempo algum, porque o coração é indomável”.
Já mos bastidores do poder evangélico, a adesão da Universal à candidatura vencedora, fosse a que fosse, era favas contadas. Macedo se alinhou a todos os presidentes desde Fernando Collor, em 1989.
Publicamente, a igreja se posicionou ferozmente contra Lula e a esquerda em geral, porém as escondidas, muitos candidatos omitiam o nome de Bolsonaro em seus santinhos.
A Folha Universal, jornal da casa, produziu editoriais em série nesse sentido. O texto publicado no domingo seguinte ao 7 de setembro bolsonarista dizia que a esquerda podia “chorar copiosamente” à vontade, porque “as “manifestações cívicas” galvanizadas pelo presidente deixaram claro que “o líder supremo da esquerda no Brasil não terá vida fácil”.
Edir Macedo tem longo histórico de idas e vindas com Lula. Em 1989, incentivou a demonização do petista, então candidato de primeira viagem. Três anos depois, foi preso, acusado de práticas como charlatanismo. Lula foi um dos raros políticos a visitá-lo na prisão. “Se não tomarmos cuidado, daqui a pouco a polícia está na sua casa, prendendo sem critério”, disse à época.
A Universal retomou a hostilidade com ele nas campanhas seguintes, vencidas pelo tucano FHC.
Os dois se reconciliaram quando o PT entrou no Palácio do Planalto, em 2002. O então vice de Lula, José Alencar, era do PL, partido que concentrava nomes da Universal, e depois migrou para o PRB (atual Republicanos), arquitetado pela igreja em 2003.
Em 2018, Macedo a princípio optou por endossar Geraldo Alckmin. Declarou voto em Bolsonaro de última hora, quando ficou claro que o ex-governador paulista, hoje vice de Lula, não tinha chances naquele pleito.
A opção por perdoar Lula é vista como fisiológica por pares evangélicos. Presidente da bancada evangélica, Sóstenes Cavalcante (PL-RJ) diz que Macedo “só esqueceu de uma parte da Bíblia”.
“Você só pode perdoar quem reconhece o pecado e pede perdão. Ele já quer perdoar o cara que nem reconheceu que pecou?”
Sóstenes pertence à igreja do pastor Silas Malafaia, que tem lá seus atritos com Macedo. Em 2020, Malafaia acusou a Universal de fazer um “jogo estratégico nojento” ao respaldar Kassio Nunes Marques para o Supremo Tribunal Federal.
Evangélicos, na época, defendiam a nomeação de um dos seus para a cadeira, desejo atendido com a chegada de André Mendonça à corte.