Preço do leite deve continuar subindo e pressiona orçamento familiar 

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O valor da cesta básica, que já está absurdamente alto, vem ficando cada vez pir com a constante alta no preço do leite nos supermercados brasileiros e deve continuar pressionando o bolso das famílias.  

A explicação para esse cenário passa por um conjunto de fatores diversos, que se encontram em um denominador comum: a falta de políticas governamentais para garantir o abastecimento. 

Segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconomômicos (Dieese), o leite registrou aumento em todas as capitais do país. A escalada mais expressiva ocorreu em Belo Horizonte e chegou a 23,09% na comparação com maio e 48,89% em relação ao ano passado. O impacto, no entanto, é sentido com intensidade em todo o país. Os valores do litro do leite nas gôndolas podem passar de R$ 8. 

“Há várias questões que implicam muito fortemente, não só no preço do leite, mas também de outros produtos, em particular os alimentos no Brasil”, afirma Gilmar Mauro, da coordenação nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST). 

Gilmar explica que alimentos, no geral, sofrem os impactos de um “processo quase de naturalização de uma dolarização da economia brasileira”. Produtos como soja e café – que fazem parte da lista de commodities e são comercializados internacionalmente seguindo as regras e valores do comércio global – “exercem pressão brutal sobre o uso da terra brasileira e impactam em outros produtos, como o leite, o feijão e assim por diante.” 

Para os produtores as exportações são mais vantajosas, uma vez que são isentas de impostos e a venda é em dólar. Sem incentivos para vender a preços justos para a população, a tendência é que a produção brasileira foque em commodities, e não em alimentos. 

“Quem produz para exportação obtém, primeiro, grandes financiamentos públicos, coisa que a agricultura familiar não tem. Segundo, isenção completa de pagamento de impostos. Obviamente, toda a cadeia do agronegócio, dominada por grandes empresas, vai buscar o mercado internacional.” 

Quem produz leite no Brasil encontra dificuldades crescentes para manter negócios destinados ao abastecimento interno nesta conjuntura. A dolarização da economia e a elevação da taxa de câmbio aumentam os preços dos insumos necessários para manter a criação. 

A produção já costuma ter altas sazonais por causa do período anual de estiagem, que acontece no inverno em boa parte do país. Para piorar o cenário, não há assistência governamental suficiente para enfrentamento das consequências de secas históricas que atingiram especialmente a região sul recentemente. 

De acordo com a Embrapa, em dois anos houve alta de 62% nos custos para produtores e de 43% consumidores. 

“Nesses últimos três anos, o preço do leite não reagiu. Em contrapartida, tudo aquilo que é custo para a produção de leite aumentou. Se falarmos na soja e no milho, que fazem a ração, tudo aumentou. Se falarmos em em adubo, três anos atrás estava R$ 80 a R$ 100, hoje está R$ 300”, afirma o produtor Sebastião Vila Nova. 

Ele é presidente da Cooperoeste, cooperativa que atua na maior bacia leiteira do estado de Santa Catarina, um dos grandes produtores do Brasil. Segundo Vila Nova o número de produtores vem caindo consideravelmente. A abertura de novos negócios e a continuidade dos que já estavam no setor não têm atrativos. 

“No nosso entendimento é uma estrada que não tem volta. Serão aumentos constantes e corremos o risco de chegar ao momento em que daremos graças por encontrar (o produto). Temos visto muitos laticínios parando as atividades porque não tinham lucratividade nenhuma. Nos próximos meses, consequentemente, o consumidor vai pagar a conta final da inflação, do diesel, do aumento dos insumos e assim por diante”, ressalta. 

A Embrapa identifica uma escalada dos custos desde meados do ano passado. Segundo dados da empresa, de janeiro a junho deste ano, o preço médio do leite pago ao produtor caiu cerca de 3,8% na comparação com o mesmo período de 2021, deflacionado pelo custo de produção. 

Entre os insumos e serviços que mais subiram de valor estão fertilizantes, combustíveis e o frete marítimo internacional, que sofrem influência da guerra entre Rússia e Ucrânia. 

Sebastião Vila Nova afirma que o poder público deveria agir com a criação de subsídios para a compra de insumos para redução de custos. Ele cita também a necessidade de incentivos aos produtores, financiamento para acesso a novas tecnologias – inclusive para a indústria – e controle do preço dos combustíveis. O produtor conta que, nos próximos meses, até o custo das embalagens deve aumentar. 

“O poder público é uma decepção nesses últimos quatro anos. Não tem contribuído em nada com a agricultura familiar. Antes, tínhamos a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), que fazia uma autossustentação, que fazia o contrapeso, que adquiria os produtos lácteos e distribuía para a população mais carente e, nos últimos anos você não vê isso. Falta a mão pública atuar com vontade nesse setor, porque se não vai faltar leite. Essa é a verdade”, alerta. 

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