Mortes por intervenção policial disparam 78% em São Paulo em 2024, aponta levantamento
Estudo revela crescimento alarmante da letalidade policial, com impacto maior sobre a população negra
As mortes por intervenções policiais em São Paulo cresceram assustadores 78% em 2024, conforme dados divulgados pelo Instituto Sou da Paz. O estudo traz à tona uma realidade preocupante: a violência contra a população negra, que registrou um aumento superior a 90%. “Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura” – é assim que a questão da segurança pública vem sendo tratada, sem solução efetiva para conter a letalidade.
Um dos episódios que mais chamou atenção recentemente aconteceu em Bauru, onde policiais militares foram flagrados agredindo a mãe de um jovem durante um velório. O jovem havia sido morto em um confronto com a polícia, e a atitude dos agentes gerou revolta. O caso resultou no afastamento de um dos policiais, que agora está sob investigação pela corregedoria. De janeiro a agosto de 2024, 441 pessoas perderam a vida em ações policiais, contra 247 no mesmo período do ano anterior. A maioria dessas vítimas é composta por pessoas negras, com um aumento de 92% para pretos e 82% para pardos, o que evidencia um recorte racial na violência.
Para Cristina Neme, coordenadora de projetos do Instituto Sou da Paz, esse crescimento tem ligação direta com a falta de controle sobre o uso da força policial. “As câmeras de segurança foram uma tentativa de profissionalizar a atuação dos agentes, mas infelizmente o programa foi enfraquecido”, declarou. A capital paulista e a Baixada Santista despontam como as regiões com os maiores índices, fruto de um aumento expressivo de operações policiais. Neme sugere que o uso da inteligência e uma parceria mais estreita com a Polícia Civil são caminhos para reduzir o número de mortes, sem comprometer a segurança da população.
A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo afirmou, por meio de nota, que as mortes são resultado da reação de suspeitos durante as operações policiais e que todos os casos estão sendo rigorosamente apurados pelas corregedorias, Ministério Público e Judiciário.
“Num deserto de justiça, até a sombra é um alívio.” – JP Jornal O Popular