O envelhecimento da população brasileira tornou-se uma realidade incontestável, com a idade média atual situando-se em torno dos 35 anos. Os cidadãos com mais de 65 anos já representam quase 11% da população total, ultrapassando 22 milhões de habitantes, de acordo com dados do Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Esse percentual de pessoas com mais de 65 anos contrasta significativamente com os números da década de 1980, quando representavam apenas 4% da população total. A expectativa de vida no Brasil agora supera os 75 anos, gerando preocupações sobre a renda dos idosos durante a aposentadoria.
Especialistas entrevistados pelo InfoMoney destacam que as mudanças nas regras de aposentadoria, a espera por benefícios do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) e o envelhecimento da população estão incentivando os brasileiros a considerar mais seriamente o planejamento e os investimentos para a aposentadoria, algo já comum entre europeus e norte-americanos.
Embora nove em cada dez aposentados dependam exclusivamente da previdência pública para sua subsistência, há um aumento no interesse pela previdência privada. De acordo com o levantamento “Raio X do Investidor Brasileiro” da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), em parceria com o Datafolha, 4% dos aposentados contam com a renda do próprio trabalho, enquanto 3% possuem previdência privada.
A previdência privada vem ganhando destaque nos últimos anos, conforme indicado pelos dados da Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (FenaPrevi). No primeiro semestre de 2023, os aportes na previdência privada aumentaram 2,9% em relação ao mesmo período do ano anterior, totalizando R$ 77,4 bilhões. Os resgates atingiram R$ 66 bilhões, resultando em uma captação líquida de R$ 11,4 bilhões. No entanto, apenas 9% da população brasileira atualmente conta com um plano de aposentadoria privada, somando aproximadamente 11 milhões de pessoas e R$ 1,3 trilhão em ativos.
Especialistas acreditam que o desafio reside em mudar a cultura das pessoas em relação à construção de patrimônio de longo prazo e em promover a educação financeira para incentivar contribuições regulares, mesmo que modestas. A estabilidade econômica e a maturidade do mercado indicam um amadurecimento na mentalidade dos brasileiros em relação ao planejamento financeiro para o futuro.
A previdência pública ainda é considerada importante, mas a conscientização crescente sobre a necessidade de poupar para garantir um complemento de renda na aposentadoria está impulsionando o interesse na previdência privada. A expectativa é que a oferta de produtos dessa natureza alcance camadas mais amplas da população.
Os especialistas alertam que, embora os planos privados e investimentos como o Tesouro Direto Renda A+ possam oferecer benefícios, nenhum deles garante uma renda vitalícia. A professora de finanças da FGV, Myrian Lund, destaca a importância de considerar o pagamento do INSS, uma vez que produtos financeiros têm prazos definidos, e as mudanças sociais e demográficas estão ocorrendo mais rapidamente do que se previa.