Polícia Civil do Distrito Federal divulgou recentemente uma pesquisa feita em abril deste ano que revela que 83% das vítimas de estelionato sentimental ou amoroso são mulheres e 17% delas têm idade entre 25 e 30 anos. Apenas 15% das vítimas são do sexo masculino.
O levantamento ouviu 71 vítimas do DF no período de janeiro de 2022 a abril de 2023. E, de acordo com a PCDF, este número pode ser bem maior que o número de ocorrências registradas, já que um mesmo criminoso pode fazer mais de uma vítima.
O estelionato sentimental é aquele em que o criminoso se aproxima da sua vítima com o objetivo de ter algum tipo de vantagem, como dinheiro, carros, imóveis ou propriedades através de um relacionamento amoroso. Normalmente, a abordagem é feita através de redes sociais ou aplicativos de namoro e relacionamentos.
Uma vítima desta modalidade de crime, que preferiu não ser identificada, contou que o namorado em um primeiro momento se apresentou como alguém que “toda mulher gostaria de ter na vida”. “A gente não discutia, não brigava, ele fazia tudo o que eu queria”, declara. Porém, mais tarde, o homem passou a pedir dinheiro “emprestado”. Os valores correspondiam ao que ela recebia do trabalho, ao valor do carro e até mesmo de um imóvel que pertencia à sua filha.
“Ele pediu para eu vender o meu carro, ele vendeu meu carro e não me repassou o dinheiro da venda”, conta. “Ele foi comigo para outro estado para a venda da casa minha filha e depois me pediu [emprestado] o valor exato da casa dela”, completa. O prejuízo foi de quase R$500 mil.
Esses argumentos de que os valores solicitados são uma forma de empréstimo é comum entre os criminosos, já que eles se apresentam como pessoas de alto poder aquisitivo e com condições para devolver o dinheiro. O advogado Nardenn Souza Porto revela que se a vítima conseguir provar o empréstimo, o crime pode ser configurado como estelionato e a justiça pode decretar a restituição de valores.
“Pix, transferências, pagamentos, viagens, carros, casas, o que você emprestou pra ele, o que ele tirou de você. O juiz vai analisar para condenar ou não o golpista a ressarcir o valor”, informa.
No entanto, esse crime vai além de prejuízos financeiros, ele também causa danos psicológicos. Para a psicóloga Fabiana Melissa Ramos, o criminoso gera dependência emocional, que pode deixar a vítima vulnerável a vários sentimentos. “Insegurança, baixa autoestima, sentimento de culpa, sentimento de incapacidade, frustração”, pontua. Fabiana defende o acompanhamento com especialistas para que a vítima supere a perda.
Com a finalidade de inibir o estelionato sentimental, a Polícia Civil do DF, responsável pela pesquisa apresentada no início da matéria, elaborou uma cartilha digital com informações que podem ajudar a mulher a identificar se está sendo vítima do crime, além de dicas com os procedimentos necessários fazer a denúncia.