O Tenente Coronel PM Marcos Boldrin, natural do bairro paulistano do Belenzinho, próximo ao Parque São Jorge, cresceu no eixo São Paulo – Marília – Tupã.
Ingressou na Corporação pelo portal da Academia de Polícia Militar do Barro Branco (1988), atuando no Corpo de Bombeiros (10ºGB, sediado em Marília), Policiamento Territorial (9ºBPM/I, sediado em Marília; 32ºBPM/I, sediado em Assis; 42ºBPM/I, sediado em Presidente Venceslau), no Comando de Policiamento da Capital (CPC) e no Centro de Comunicação Social (CComSoc) – Divisão de Imprensa – do Comando Geral da Polícia Militar do Estado de São Paulo.
O coronel é graduado em Ciências Policiais de Segurança e Ordem Pública pela Polícia Militar paulista e em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de Marília, cursou especialização em Segurança Pública pela Universidade Estácio de Sá (RJ) e conquistou Mestrado profissional com a dissertação “Arquitetura e Prevenção do Crime.
Em seu texto “Luz sobre os autoritários midiáticos ocultos na Democracia”, o coronel explana sobre o caso de um Coronel da Polícia Militar que foi duramente punido por suas publicações em redes sociais. Marcos Boldrin traz uma reflexão sobre o papel da Polícia Militar e as repercussões em mídias sociais.
Leia o artigo na íntegra:
Luz sobre autoritários midiáticos ocultos na Democracia
Fato divulgado por jornal brasileiro de circulação nacional desta semana traz, em seu lead, que um Coronel de Polícia Militar paulista “que comandava no interior tropas com 5 mil homens, publicou as críticas em rede social; após revelação do caso […] é desligado do posto por indisciplina”.
Já pela abertura da matéria vê-se equívocos que, para preservar o seu precioso tempo, leitor, lanço-me ao que interessa.
Retiremos a contaminação político-mental menor, aquela mesma que roga que a instituição Polícia Militar do Estado de São Paulo é fruto da mal falada “ditadura”: em verdade, é Instituição secular, comemorando, neste ano, seus 190 anos. Se julga pouco: Dom Pedro I foi quem permitiu sua criação. Não General Figueiredo… Ernesto Geisel… Castelo Branco. Nem Marechal Deodoro da Fonseca, o que já seria prova de empresa que deu certo por estar em pé e à ordem por tanto tempo.
Nem Dom Pedro II. Coube ao seu pai, Dom Pedro I, apelidado “O Libertador” e primeiro imperador brasileiro – 15 de dezembro de 1831 – a nobreza do ato: garantir ao povo segurança, proteção, sem emprego de bandos que servissem a este ou àquele grupo. Sem submissão.
Menos ainda a um determinado governo tendencioso.
O Libertador permitiu-nos garantia de proteção, de segurança por uma tropa de Estado, não de governos.
A Corporação atravessou e atravessa séculos. Sempre fiel ao povo paulista e à lei, também o é junto ao Governador que, bem ou mal, com suas virtudes e defeitos, é o escolhido pelo povo em uma democracia saudável e, enquanto ocupar a cadeira, é a ele, dentro dos limites da legalidade, que a força policial militar se manterá.
Instituição de Estado, portanto, composta por profissionais que, quando envergam seus uniformes, isentam-se dos humores extremistas ou político-partidários e de tudo de ruim que posições intransigentes carregam consigo.
Exemplifico por duas operações dentre tantas que me permitiram vivenciar a realidade da Instituição: atuação na manifestação pró impeachment do então Presidente da República Fernando Affonso Collor de Mello, no Vale do Anhangabaú; e, na da então Presidente da República Dilma Vana Rousseff, na Avenida Paulista, ambas na capital de São Paulo. Décadas de intervalo entre uma e outra e mentes ideologicamente opostas, o tratamento dado pelos Policiais Militares foi um e um só, indistintamente: servir e proteger o cidadão comum no exercício legal de seus direitos.
Creio que, assim, faz-se a luz e apesar de alguns oportunistas buscarem aventar ideias distintas como mera forma de autopromoção, esta é a essência fora de chavões, das respostas fáceis e dos confortos baratos.
Por seu turno, há um princípio que lá aprendi, na vida em caserna: é prova de maturidade obedecer às regras da instituição que escolhemos pertencer de forma voluntária.
É o que fez o Comandante. Todas as informações disponibilizadas pelo gazeteiro, pelo repórter, foram retiradas do perfil de mídia social do militar – lugar virtual, instância pessoal de pronunciamento em que expressa o que se passa em seu íntimo, e, na condição de cidadão, que tem garantida liberdade de se expressar desde que não envolva o bom nome da Instituição que escolheu pertencer de forma voluntária.
Caberia, talvez, discutir judicial e individualmente a teórica ofensa caso os ofendidos assim o quisessem – não a alguém que se vale da cadeira que ocupa aplicar o poder hierárquico e obrigar o silêncio. Pior: tornar pública a repressão contra o livre pensar e manifestar neste caso específico.
O Oficial em nada incita: convida. E explana sua opinião sobre outras tantas opiniões tornadas públicas pelas bocas das diversas autoridades das esferas nacional e estadual que optaram menos pelo silêncio e trabalho, mais pela indiscrição, pelas discussões públicas e midiáticas amplamente cobertas pela imprensa e pelo desvario. Desequilíbrio, até.
Esqueceram-se da máxima: a palavra motiva, mas o exemplo arrasta.
Com seus exemplos, nos arrastam, seja lá pra qual lado for. Nós, o povo.
Não há também, qualquer menção na matéria jornalística de que o Coronel tenha falado abertamente, em público, enquanto na condição de Policial Militar. Não obrigou nem instigou sua tropa dentro dos muros dos quarteis que lhe foram confiados a nada que não fosse a rotina diária de policiamento. Não deu nenhuma entrevista vestido com o uniforme que caracteriza a Instituição.
Sequer tocou nas palavras do então candidato – e agora governador – sobre o prometido realinhamento salarial, ou sobre formas de valorização profissional ou, ainda, que o afiançado de que teriam apoio para alcançarem o topo do ranking dentre as forças policiais.
Palavras motivam, mas não se sustentam sem exemplos positivos, sem concretização: hoje, a tropa amarga as piores posições pelos piores salários já pagos no país e por toda história. E olha que tratamos de São Paulo… imagine.
Obviamente que há que se apurar o negativamente creditado pelo veículo de comunicação e nisso a Instituição militar é bastante zelosa, caprichosa, levando o tempo adequado, evitando-se contaminar pelo calor do momento, orientada por princípios que a mantém firme em seus propósitos há quase dois séculos, sem que seus integrantes deixem de lado a luta diária pelo socorro, seus respeito à tradição e às conquistas que herdamos pelo esforço dos nosso pioneiros que se sacrificaram, sem perder a visão pragmática da fé nos progressos pela inteligência, pela tecnologia e no espírito humano.
Sinto pelo fato de que, justamente a mão que reconheceu as qualidades do Coronel (o promovendo ao último posto da carreira há menos de 2 anos, durante a atual gestão) é a mesma que, agora, excede, menos pelo ato de poder disciplinador (inquestionável, que o governador, comandante máximo da tropa nos limites do estado paulista, deva exercer em casos que exijam firme postura), mais, ainda, pela demasiada exposição midiática que atinge e expõe desnecessariamente toda uma Corporação e seus integrantes: enquanto líder, bastaria o chamamento do Coronel à sua sala e, após ouvido e sendo necessário, que se desse a devida coça, o esfrega.
Em último caso, informaria-lhe da abertura de procedimento apuratório e da aplicação rígida de justa punição se e somente se restassem provas do que já tratamos, após esgotadas todas as garantias que assistem qualquer cidadão indistintamente – do contraditório e ampla defesa – sem privilégios e desvantagens.
Mais: longe das mídias, do barulho, do histrionismo e da exposição desnecessária. Sem excessos.
Aliás, excessos que evocam um dito popular francês: o de que “políticos e fraldas devem ser trocados de tempos em tempos, pelo mesmo motivo”.
Ao contrário, o Povo e suas Polícias permanecem, ficam. Não meros 4… 8 anos. Mas décadas. Séculos. Tenho fé de que por milênios que virão.
Deixemos as boas e equilibradas autoridades, juntamente com o tempo – este, sim, soberano de todas as justiças -, se incumbirem de colocar as coisas nos seus devidos lugares.
Veremos que é a instituição Polícia Militar paulista uma tropa… uma legião de idealistas, não submetidos a mandos e desmandos, nem vassala de vontades de governos, mas de verdadeiros homens de Estado e do Povo.
Uma legião que, ao longo dos séculos e após tanto sofrimento, outras tentativas de mandos e desmandos, consolidou-se vigia da Lei e Paulista.
Proteger as pessoas é mesmo a sua missão.
Nela, nós podemos confiar.
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* Marcos Boldrin
Secretário da Administração e Coronel da Reserva